Setor atacadista-distribuidor baiano enfrenta dificuldades, diz Gabrielli

 

Hoje é possível comprar uma geladeira em poucos minutos, sem sair de casa. Basta acessar a Internet e escolher o produto que, se for adquirido direto da fábrica, sai mais barato do que fosse comprado no comércio de rua. Essa possibilidade proporcionada pelas novas tecnologias é apenas um exemplo de fatores que têm influenciado no setor atacadista-distribuidor baiano, que também enfrenta novos concorrentes de outros estados. O programa Encontro com Gabrielli desta semana aborda os desafios e as dificuldades do setor.

De acordo com a Associação de Distribuidores e Atacadistas do Estado, em 2009, o faturamento do setor superou R$ 30 bilhões. Já no ano de 2011, este volume ficou em torno de R$ 6,5 bilhões, sendo que a Bahia foi o único estado do país cujo setor varejista superou o atacadista em faturamento. O economista e secretário do Planejamento, José Sergio Gabrielli, esclarece que três situações explicam essa queda.

A primeira delas está relacionada à origem fiscal e tributária. Ou seja, estados como São Paulo e Minas Gerais não reconhecem os créditos fiscais da Bahia, exigindo do empresário que vende mercadorias para esses estados a duplicidade no pagamento de impostos. “Além disso, representantes do setor argumentam que a adoção da substituição tributária, em 2010, elevou a carga tributária dos principais produtos comercializados, como bebidas alcoólicas, brinquedos, higiene pessoal, material de limpeza e papelaria”, diz Gabrielli.

Outra causa está vinculada à logística. “Devemos investir ainda mais na construção e manutenção de rodovias e, no que se refere ao setor atacadista, a iniciativa privada deve ser parceira do Estado para implantar plataformas logísticas, como a de Feira de Santana. Juazeiro e Vitória da Conquista, que já possuem projeto pronto”, indica o secretário.

A terceira situação elencada é de natureza comercial. Isso quer dizer que surgiram novas formas de fazer negócio para atender o consumidor final, a exemplo da compra via Internet citada acima, porém o setor atacadista-distribuidor da Bahia esteve pouco atento a essas inovações.

"Existe uma nova dinâmica na cadeia de comércio e o papel tradicional de intermediário, que o atacadista-distribuidor fazia, está sendo reduzido”, aponta Gabrielli. Além do comércio eletrônico, acrescenta, quem contribui para agravar a situação é o atacarejo, que é um misto de atacado e varejo. Esse tipo de negócio consegue atender, em uma só estrutura, o dono do mercadinho de bairro, que adquirirá alguns itens no atacado e outros no varejo, e a dona de casa, que comprará apenas pequenas quantidades, mas por um preço menor do que se fosse diretamente ao mercado perto de casa.

PERFIL DOS ESTABELECIMENTOS - Uma peculiaridade do setor atacadista na Bahia, segundo dados do Sebrae de 2010, é que a maioria dos estabelecimentos que atuam no segmento são microempresas. Dos mais de 4,3 mil estabelecimentos registrados como atacadistas no estado, 74% tinham até nove funcionários. Pequenas empresas respondiam por 20% e somente 6% eram médias ou grandes empresas, o que, na teoria, é o perfil adequado do setor.

“Isso significa que o setor atacadista, em sua grande maioria, é composto por representantes comerciais, ao invés de empresas com grandes estruturas e operações logísticas complicadas”, avalia Gabrielli. Para ele, um setor que emprega, somente na Bahia, cerca de 350 mil pessoas, “precisa se reestruturar, pois está indo na contramão do restante do país”.

“Novas formas de organização precisam ser incorporadas, pois a atividade atacadista deve atender tanto às exigências da indústria quanto do pequeno varejo, com uma tendência a se tornar um prestador de serviços, um operador logístico”, acrescenta o secretário do Planejamento.

No ano passado, em todo o Brasil, os atacadistas-distribuidores foram responsáveis por abastecer um milhão de pontos de venda nas cinco regiões do país e tiveram um faturamento de R$ 164 bilhões, o que representa crescimento de 2,5% em relação a 2010. “Essa incrível quantidade de dinheiro que o setor movimentou fez com que, pelo sétimo ano consecutivo, a participação dos agentes distribuidores, em relação ao mercado de consumo brasileiro, permanecesse acima de 50%”, finaliza Gabrielli.